Pedro Fabro nasceu num pequeno vilarejo em Sabóia (França) em 13 de abril de 1506. Filho de pastores de ovelhas, Fabro foi também pastor desde a infância. Criado numa família muito cristã, teve desde cedo grande interesse de aprender, como ele mesmo revelou em seus escritos autobiográficos: “por volta de dez anos, senti o desejo de estudar. Mas era pastor e para tal destinado ao mundo por meus pais. Assim, não podia sossegar e chorava pelo anseio de escola”.
Aprendeu as primeiras letras numa escola modesta próxima à sua casa. Seu mestre, um fervoroso cristão, após iniciar em Pedro o gosto pelas letras, notou a grande inteligência do menino. Passada a formação inicial, o mestre reuniu dinheiro para uma bolsa de estudos para o garoto. Assim, Pedro Fabro pôde ir a Paris continuar os estudos.
Ficou dez anos em Paris e, no ambiente universitário, conheceu seus futuros companheiros de missão: Francisco Xavier e, depois, Inácio de Loyola: “Neste ano [de 1529] veio Inácio para entrar no mesmo colégio de Santa Bárbara e em nosso mesmo cubículo (…). Bendita seja para sempre a divina Providência que ordenou tudo isso para o meu bem e minha salvação.”.
Pedro fez logo amizade com Inácio, que tocou seu coração e foi o grande responsável pela sua conversão. É o próprio Pedro quem revela os pormenores desse encontro: “No princípio eu o ensinava, ou, pelo menos tinha a intenção, mas havia sempre uma particularidade: nossas aulas de repetição terminavam com conversas espirituais, onde meu coração ardia como os dos discípulos de Emaús (Lc 23,13-35). E quando descobri que Inácio era um mestre de espírito, comecei a abrir-lhe minha consciência escrupulosa.”.
Depois de um intenso período de reflexão e oração, Inácio propôs a Fabro seus Exercícios Espirituais e Pedro tornou-se, após a experiência, o primeiro companheiro do futuro santo fundador da ordem dos jesuítas.
Em 1534, Pedro Fabro foi ordenado sacerdote, o primeiro dentre os sete companheiros iniciais da Ordem. Sua missão foi a de propagar a Fé através de um intenso serviço apostólico itinerante: Itália, Alemanha, Espanha, novamente Alemanha, Bélgica, Portugal…
Inicialmente em Parma, Pedro Fabro alojou-se no hospital, recusando hospedagem no palácio do cardeal. Dessa forma, vivia de esmolas. Pedro se colocava a disposição de todos, dia e noite, para ensinar e confessar. Dirigiu os Exercícios aos sacerdotes e promoveu uma grande mudança na vida religiosa em Parma. Diziam que “era como se todo domingo fosse domingo de Páscoa”, tamanha renovação religiosa. No entanto, foi chamado a Roma para nova destinação.
Em Roma, recebeu a missão de integrar a comissão do Dr. Pedro Ortiz, importante eclesiástico, conselheiro de Carlos V. Ortiz foi quem, em 1529, denunciou Inácio de Loyola à Inquisição por suspeita de heresia. No entanto, após fazer os Exercícios Espirituais sob a direção de Loyola em 1538, mudou completamente de opinião sobre a Companhia, tornando-se grande entusiasta e benfeitor da Ordem.
Partiram para a Alemanha em 1540. Ali, Pedro notou que as pessoas se rebelavam contra a Igreja romana não por discordarem das Escrituras, mas pela má conduta dos eclesiásticos. Diante disso, passou a dirigir os Exercícios a teólogos, prelados e a toda a corte.
Em julho de 1541, a comitiva de Ortiz partiu para a Espanha. Fabro teve uma estada curta em território espanhol, pois logo foi mandado de volta às terras germânicas, onde o avanço do protestantismo era grande. Fabro era considerado indispensável na defesa da Fé Católica diante deste cenário.
Obedecendo às ordens dos superiores, Fabro retornou à Alemanha e retomou seu apostolado, principalmente junto ao clero local. O trabalho era enorme, mas, mesmo com pouco pessoal, precisava atender aos chamados dos superiores. O então Superior Geral da Companhia de Jesus recebeu um pedido de D. João III, grande benfeitor da Ordem dos jesuítas, por pessoal qualificado em sua corte. Loyola decidiu enviar Fabro. Depois de um ano em Portugal, Fabro partiu para o trabalho apostólico na Espanha.
Durante sua atividade como jesuíta, Pedro Fabro percorreu toda a Europa ocidental à pé ou em lombo de mula. Foram anos de grande entrega e árduo trabalho. Já com a saúde debilitada, Fabro recebeu nova ordem: a de regressar a Roma para assistir, como teólogo, ao Concílio de Trento ao lado dos companheiros Lainez e Salmerón. Apesar da dificuldade da viagem, Fabro conseguiu chegar a Roma no dia 17 de julho de 1546.
As dificuldades e as expectativas com essa viagem, que viria a ser a última de Pedro Fabro, foram descritas por ele mesmo em uma carta datada de 31 de julho, destinada ao seu amigo e companheiro de missão nas terras ibéricas, António Araoz. É por meio desta carta que percebemos que, apesar de prostrado pela febre, Fabro acreditava que logo se recuperaria: “Há uns dias, Antônio, escrevi a Mestre Lainez, Mestre Salmerón e Mestre Jayo, que já estão no Concílio, que me juntaria a eles dentro de mais uns dias, quando me recupere. Pois, como em outras ocasiões, já passará… Estou certo que estas febres passarão…”.
No entanto, as febres não passaram. No mesmo dia 31, Fabro pediu um confessor. Morreu no dia seguinte, prostrado pela febre e, em seu leito, encontraram a referida carta. Tinha exatos 40 anos.
De caráter amável e suave, Fabro foi responsável por um grande número de vocações nestes anos iniciais da Companhia de Jesus. Sua palavra era persuasiva e tinha grande poder de conversão. Quando interpelado por um jovem jesuíta sobre como conseguia converter tantas pessoas, mesmo os mais céticos, ele respondeu: “Quando vós encontrares pessoas, mesmo soldados, estejais persuadido de que eles são melhores do que vós. Então, vós os conquistareis para Cristo”.
Mesmo diante do protestantismo crescente, Fabro propunha um diálogo amistoso e conciliador: “Creio que, daqui para frente, as relações com os luteranos devam fazer-se numa conversação fresca e serena e que comecemos a buscar as coisas em que coincidimos, de modo a ganhar-lhes bom ânimo de reformar suas vidas e ser seguidores de Nosso Senhor,com mais ardor apostólico e zelo das almas”.
Pedro Fabro foi beatificado pelo Papa Pio IX em 1872 e canonizado pelo Papa Francisco em 2013. Ao canonizar São Pedro Fabro, o Papa Francisco ressaltou o caráter piedoso, simples e bondoso do santo jesuíta e seu “atento discernimento interior”.
“Fabro era um «homem modesto, sensível, de profunda vida interior e dotado do dom de estabelecer relações de amizade com pessoas de todas as categorias» (Bento XVI, Discurso aos jesuítas, 22 de Abril de 2006). Contudo, era também um espírito inquieto, hesitante, nunca satisfeito. Sob a guia de Santo Inácio, aprendeu a unir a sua sensibilidade irrequieta mas também dócil, diria requintada, com a capacidade de tomar decisões. Era um homem de grandes desejos: assumiu os seus desejos, reconheceu-os. Aliás, para Fabro, é precisamente quando se apresentam situações difíceis que se manifesta o verdadeiro espírito que move a ação (cf. Memorial, 301). Uma fé autêntica exige sempre um desejo profundo de mudar o mundo. Eis a pergunta que nos devemos fazer: temos também nós grandes visões e estímulos? Somos também nós audazes? O nosso sonho voa alto? O zelo devora-nos (cf. Sl 69, 10)? Ou somos medíocres e satisfazemo-nos com as nossas programações apostólicas de laboratório? Recordemo-nos sempre disto: a força da Igreja não habita em si mesma nem na sua capacidade organizativa, mas esconde-se nas águas profundas de Deus. E estas águas agitam os nossos desejos e os desejos alargam o coração. É o que diz Santo Agostinho: rezar para desejar e desejar para alargar o coração. Precisamente nos desejos Fabro podia discernir a voz de Deus. Sem desejos nada se conclui e é por isto que se devem oferecer ao Senhor os próprios desejos. Nas Constituições diz-se que «se ajuda o próximo com os desejos apresentados a Deus nosso Senhor» (Constituições, 638).
Fabro sentia o desejo verdadeiro e profundo de «ser dilatado por Deus»: estava completamente centrado em Deus, e por isto podia ir, em espírito de obediência, muitas vezes também a pé, por todas as partes da Europa, para dialogar com todos com doçura e anunciar o Evangelho. Mas pode-se pensar na tentação, que talvez nós possamos ter e que tantos sentem, de relacionar o anúncio do Evangelho com golpes inquisitórios, de condenação. Não, o Evangelho anuncia-se com doçura, com fraternidade, com amor. A sua familiaridade com Deus levava-o a compreender que a experiência interior e a vida apostólica caminham sempre juntas. Escreve no seu Memorial que o primeiro movimento do coração deve ser o de «desejar o que é essencial e originário, ou seja, que o primeiro lugar seja deixado à solicitude perfeita de encontrar Deus nosso Senhor» (Memorial, 63). Fabro sente o desejo de «deixar que Cristo ocupe o centro do coração» (Memorial, 68). Só estando centrados em Deus é possível orientar-se rumo às periferias do mundo! E Fabro viajou ininterruptamente também nas fronteiras geográficas a ponto que dele se dizia: «parece que nasceu para não se deter em parte alguma» (MI, Epistolae I, 362). Fabro sentia-se arder pelo desejo intenso de comunicar o Senhor. Se nós não tivermos o seu mesmo desejo, então precisamos de nos deter em oração e, com fervor silencioso, pedir ao Senhor, por intercessão do nosso irmão Pedro, que nos fascine de novo: aquele fascínio do Senhor que levava Pedro a todas estas «loucuras» apostólicas.
[…] Como escrevia São Pedro Fabro, «nunca procuremos nesta vida um nome que não se reate ao de Jesus» (Memorial, 205). E peçamos a Nossa Senhora para podermos estar com o seu Filho.
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Fonte: https://franciscanos.org.br/vidacrista/santo-do-dia/#gsc.tab=0