Lúcia, virgem de Siracusa, de origem nobre, ouvindo falar por toda a Sicília da celebridade de Santa Ágata, foi até o túmulo dela com a mãe, Eutícia, que havia quatro anos sofria de hemorragias sem esperanças de cura. Naquele dia lia-se na missa a passagem do Evangelho na qual se conta que o Senhor curou uma mulher que padecia da mesma doença. Lúcia disse então à mãe: “Se você acredita no que foi dito, deve acreditar que Ágata está na presença Daquele por quem sofreu. Portanto, tocando seu túmulo com fé, logo você estará totalmente curada”. Lúcia se referia ao Evangelho de Mateus referente ao encontro da mulher que sofria de hemorragia e foi curada ao tocar o manto de Jesus.
Ágata foi vítima, no ano 251, das perseguições de todos os cristãos ordenadas pelo imperador Décio. Muitas pessoas iam ao sepulcro para obter as graças porque a fama da Santa se espalhou por todo lugar por causa dos milagres que fazia. e no seu coração, Luzia era certa que teria feito bem também à sua querida mãe.
Enquanto Eutícia tocava o sepulcro, Luzia viu Santa Ágata, que lhe disse “Luzia, minha irmã, porque pedes a mim aquilo que tu mesma podes obter para a tua mãe? Eis, tua mãe já foi curada pela tua fé”. Luzia disse à mãe: “Pela intercessão de Santa Ágata, Jesus te curou”. E imediatamente Eutícia sentiu retornar as forças e compreendeu que tinha sido curada. Luzia compreendeu que aquele era o momento justo para revelar a sua mãe a intenção de consagrar-se a Jesus e doar sua riqueza. Eutícia, que tinha o coração repleto de agradecimento pela graça recebida, aceitou.
Voltando para casa, passaram todo o dia a vender uma parte dos bens, distribuindo o dinheiro aos pobres. A notícia da partilha do patrimônio chegou aos ouvidos do noivo, e ele perguntou a razão daquilo à mãe de Lúcia. Esta respondeu que sua filha havia encontrado um investimento mais rentável e mais seguro, daí estar vendendo seus bens. O insensato, crendo tratar-se de um comércio plenamente humano, passou a colaborar na venda daqueles bens, buscando os melhores negócios. Quando soube que tudo que fora vendido tinha sido dado aos pobres, o noivo levou-a à justiça, diante do cônsul Pascásio, acusando-a de ser cristã e de violar as leis imperiais.
Pascásio convidou-a a sacrificar aos ídolos, mas ela respondeu: “O sacrifício que agrada a Deus é visitar os pobres e prover às suas necessidades, mas como não tenho mais nada a dar, ofereço a Ele a mim mesma”.
Como dava extrema importância à virgindade, o governante mandou que a carregassem à força a um prostíbulo, para servir à prostituição. Conta a tradição que, embora Luzia não movesse um dedo, nem dez homens juntos conseguiram levantá-la do chão. Foi, então, condenada a morrer ali mesmo. Os carrascos jogaram sobre seu corpo resina e azeite ferventes, mas ela continuava viva. Somente um golpe de espada em sua garganta conseguiu tirar-lhe a vida. Era o ano 304.
Santa Luzia, antes da execução, preanunciou a morte de Dioclesiano, que aconteceu poucos anos depois e o final das perseguições terminadas no ano 313 D.C com publicação de Constantino.
Luzia foi morta no dia 13 de Dezembro de 304 e teve sepultura no mesmo lugar onde no ano 313 foi construído um santuário a ela dedicado.
Para proteger as relíquias de santa Luzia dos invasores árabes muçulmanos, em 1039, um general bizantino as enviou para Constantinopla, atual território da Turquia. Elas voltaram ao Ocidente por obra de um rico veneziano, seu devoto, que pagou aos soldados da cruzada de 1204 para trazerem sua urna funerária. Santa Luzia é celebrada no dia 13 de dezembro e seu corpo está guardado na Catedral de Veneza, embora algumas pequenas relíquias tenham seguido para a igreja de Siracusa, que a venera no mês de maio também.
Santa Luzia salvou tantas vezes Siracusa nos seus momentos mais dramáticos, como carestias, terremotos, guerras e interviu também em outras cidades como Brescia que, graças à sua intercessão, foi liberada da uma grave carestia.
Mas a devoção à santa, cujo próprio nome está ligado à visão (“Luzia” deriva de “lux” = luz), já era exaltada desde o século V. Além disso, o papa Gregório Magno, passado mais um século, a incluiu com todo respeito para ser citada no cânone da missa. Os milagres atribuídos à sua intercessão a transformaram numa das santas auxiliadoras da população, que a invocam, principalmente, nas orações para obter cura nas doenças dos olhos ou da cegueira. Por esse motivo, Dante Alighieri, na Divina Comédia, atribui a Santa Lúcia ou Luzia a função de graça iluminadora.
Diz a antiga tradição oral que essa proteção, pedida a santa Luzia, se deve ao fato de que ela teria arrancado os próprios olhos, entregando-os ao carrasco, preferindo isso a renegar a fé em Cristo. A arte perpetuou seu ato extremo de fidelidade cristã através da pintura e da literatura. Assim, essa tradição se espalhou através dos séculos, ganhando o mundo inteiro, permanecendo até hoje.
A Igreja também celebra hoje a memória dos santos: Otília e João Marimoni.