Viúva, religiosa da Terceira Ordem (1302-1373). Fundadora da Ordem das Irmãs de São Salvador. Canonizada por Bonifácio IX em 7 de outubro de 1392.
Conhecemos bem os acontecimentos da vida de Santa Brígida, porque os seus pais espirituais redigiram a sua biografia para promover o processo de canonização logo após sua morte, ocorrida em 1373. Brígida nasceu em 1303, em Finster, na Suécia, uma nação do Norte europeu que, já fazia três séculos, havia acolhido a fé cristã com o mesmo entusiasmo com que a santa a tinha recebido de seus pais, pessoas muito piedosas, pertencentes a nobres famílias próximas à Casa real.
Podemos distinguir dois períodos na vida desta santa. O primeiro é caracterizado pela sua condição de mulher alegremente casada. O marido chamava-se Ulf e era governador de um importante distrito do reino da Suécia. O matrimônio durou 28 anos, até a morte de Ulf. Nasceram oito filhos, dos quais a segunda, Karin (Catarina), é venerada como santa. Isso é um sinal eloquente do compromisso educativo de Brígida em relação a seus próprios filhos. Além disso, a sua sabedoria pedagógica foi apreciada a tal ponto que o rei da Suécia, Magnus, chamou-a à corte durante um certo período, com a missão de introduzir a sua jovem esposa, Bianca de Namur, na cultura sueca.
Brígida, espiritualmente conduzida por um douto religioso que a iniciou no estudo das escrituras, exerceu uma influência muito positiva sobre a sua família que, graças à sua presença, tornou-se uma verdadeira “igreja doméstica”. Juntamente com o marido, adotou a Regra dos Terciários franciscanos. Praticava com generosidade obras de caridade em favor dos indigentes; fundou também um hospital. Próximo à sua esposa, Ulf aprendeu a melhorar o seu caráter e a progredir na vida cristã. Ao retornar de uma longa peregrinação a Santiago de Compostela, feita em 1341 juntamente com outros membros da família, os esposos amadureceram o projeto de viver em continência; mas, pouco tempo depois, na paz de um mosteiro ao qual havia se retirado, Ulf concluiu a sua vida terrena.
Esse primeiro período da vida de Brígida ajuda-nos a apreciar aquela que hoje podemos definir como uma autêntica “espiritualidade conjugal”: unidos, os esposos cristãos podem percorrer um caminho de santidade, sustentados pela graça do Sacramento do Matrimônio. Não poucas vezes, exatamente como aconteceu na vida de Santa Brígida e Ulf, é a mulher que, com a sua sensibilidade religiosa, com a delicadeza e a doçura pode fazer o marido percorrer um caminho de fé. Penso com reconhecimento em tantas mulheres que, dia após dia, ainda hoje iluminam as próprias famílias com o seu testemunho de vida cristã. Possa o Espírito do Senhor suscitar também hoje a santidade dos esposos cristãos, para mostrar ao mundo a beleza do matrimônio vivido segundo os valores do Evangelho: o amor, a ternura, o auxílio recíproco, a fecundidade na geração e na educação dos filhos, a abertura e a solidariedade com relação ao mundo, a participação na vida da Igreja.
Quando Brígida torna-se viúva, inicia-se o segundo período da sua vida. Renunciou a outras núpcias para aprofundar a união com o Senhor através da oração, penitência e obras de caridade. Também as viúvas cristãs, portanto, podem encontrar nessa santa um modelo a seguir. Com efeito, Brígida, com a morte do marido, após ter distribuído os seus bens aos pobres, mesmo sem ter feito a consagração religiosa, estabeleceu-se junto ao mosteiro cisterciense de Alvastra. Ali começaram as revelações divinas, que a acompanharam durante todo o resto de sua vida. Essas foram ditadas por Brígida a seus secretários-confessores, que as traduziram do sueco para o italiano em uma edição de oito livros, intitulados Revelationes (Revelações). A esses livros, une-se também um suplemento, que é intitulado precisamente Revelationes extravagantes (Revelações suplementares).
As Revelações de Santa Brígida apresentam um conteúdo e um estilo muito variado. Às vezes, a revelação apresenta-se sob a forma de diálogos entre as Pessoas divinas, a Virgem, os santos e também os demônios; diálogos nos quais também Brígida intervém. Outra vezes, ao contrário, trata-se do relato de uma visão particular; e, em outras, é narrado ainda aquilo que a Virgem Maria lhe revela acerca da vida e dos mistérios do Filho. O valor das Revelações de Santa Brígida, por vezes objeto de algumas dúvidas, foi precisado pelo Venerável João Paulo II na Carta Spes Aedificandi: “Não há dúvida que a Igreja, ao reconhecer a santidade de Brígida, mesmo sem se pronunciar sobre cada uma das revelações, acolheu a autenticidade do conjunto da sua experiência interior” (n. 5).
De fato, lendo as Revelações, somos interpelados sobre muitos temas importantes. Por exemplo, retornam frequentemente as descrições, com detalhes bastante realistas, da paixão de Cristo, pela qual Brígida teve sempre uma devoção privilegiada, contemplando nessa o amor infinito de Deus pelos homens. Na boca do Senhor que fala, ela coloca com audácia estas comoventes palavras: “Ó meus amigos, amo tão ternamente as minhas ovelhas que, se fosse possível, desejaria morrer tantas outras vez, por cada uma dessas, por aquela mesma morte que sofri para a redenção de todas” (Revelationes, Livro I, c. 59). Também a dolorosa maternidade de Maria, que a tornou Mediadora e Mãe de misericórdia, é um argumento que aparece frequentemente nas Revelações.
Recebendo esses carismas, Brígida era consciente de ser destinatária de um grande dom de predileção da parte do Senhor: “Filha minha – lemos no primeiro livro das Revelações –, escolhi a ti para mim, ama-me com todo o teu coração […] mais do que tudo o que existe no mundo” (c. 1). De resto, Brígida bem sabia, e estava firmemente convencida, de que todo o carisma é destinado a edificar a Igreja. Exatamente por esse motivo, não poucas das suas revelações eram destinadas, sob a forma de admoestações também severas, aos fiéis de seu tempo, incluídas as Autoridades religiosas e políticas, para que vivessem coerentemente a sua vida cristã; mas fazia isso sempre com uma abordagem respeitosa e de fidelidade plena ao Magistério da Igreja, em particular ao Sucessor do Apóstolo Pedro.
Em 1349, Brígida deixou para sempre a Suécia e foi em peregrinação a Roma. Não somente buscava participar do Jubileu de 1350, mas desejava também obter do Papa a aprovação da Regra de uma Ordem Religiosa que pretendia fundar, em honra ao Santo Salvador, e composta por monges e monjas sob a autoridade da abadessa. Esse é um elemento que não deve surpreender-nos: na Idade Média, existiam fundações monásticas com um ramo masculino e um ramo feminino, mas com a prática da mesma regra monástica, que previa a direção da Abadessa. De fato, na grande tradição cristã, à mulher é reconhecida uma dignidade própria, e – sempre sob o exemplo de Maria, Rainha dos Apóstolos – um lugar próprio na Igreja, que, sem coincidir com o sacerdócio ordenado, é igualmente importante para o crescimento espiritual da Comunidade. Além disso, a colaboração dos consagrados e consagradas, sempre no respeito da sua específica vocação, reveste-se de grande importância no mundo de hoje.
Em Roma, na companhia da filha Karin (Catarina), Brígida dedicou-se a uma vida de intenso apostolado e de oração. E, de Roma, partiu em peregrinação a diversos santuários italianos, em particular a Assis, pátria de São Francisco, pelo qual Brígida nutriu sempre grande devoção. Finalmente, em 1371, coroou o seu maior desejo: a viagem à Terra Santa, para onde foi em companhia dos seus filhos espirituais, um grupo que Brígida chamava de “os amigos de Deus”.
Durante aqueles anos, os Pontífices encontravam-se em Avignon, distante de Roma: Brígida dirigiu-se severamente a eles, a fim de que voltassem à sé de Pedro, na Cidade Eterna.
Morreu em 1373, antes que o Papa Gregório XI retornasse definitivamente para Roma. Foi sepultada provisoriamente na igreja romana de San Lorenzo in Panisperna, mas, em 1374, os seus filhos Birger e Karin a levaram de volta para a pátria, ao mosteiro de Vadstena, sede da Ordem religiosa fundada por Santa Brígida, que teve subitamente uma notável expansão. Em 1391, o Papa Bonifácio IX canonizou-a solenemente.
Papa Bento XVI