Bem-aventurada Margarida de Lorena
Margarida nasceu no Castelo de Vaudémont, próximo de Nancy, em 1463. Era filha de Iolanda de Anjou, descendente de São Luís IX de França, e de Henrique de Vaudémont, Duque da Lorena. Ela passou sua infância em Nancy.
Jovem órfã, ela foi confiada ao seu avô materno, Renato de Anjou, Rei de Provença, que procurou dar a ela uma boa educação católica. Quanto tinha 10 anos, durante um passeio no bosque, Margarida se escondeu com algumas amigas, causando apreensão entre as pessoas do séquito. Encontrada antes do anoitecer, confessou que tinha querido se dar a vida eremítica. As pessoas do seu convívio não ficaram surpresas, pois sabiam que o avô fazia com que a menina lesse a Vida dos Padres do deserto e a Legende Dorée.
Por ocasião da morte do Rei Renato, ela voltou para a Lorena e casou-se, em 1488, com Renato, Duque de Alençon, filho de um companheiro de Santa Joana d’Arc nas lutas contra os ingleses. O casamento não foi fácil, porque os desastres da Guerra dos Cem Anos angustiavam o pequeno Ducado.
Margarida seguia os conselhos e o exemplo de sua cunhada Felipa de Gueldre, Duquesa da Lorena e Rainha da Sicília, que também ingressou nas Clarissas. Margarida ficou viúva em 1492, após 4 anos de casamento. Passou então a se dedicar à educação de seus três filhos – Carlos, Francisca e Ana – e à administração de sua casa, sem negligenciar a oração e as obras de penitência. Os parentes tinham querido subtrair as crianças de sua tutela, mas ela soube educá-las tão bem, que se tornaram admiráveis jovens de sangue real e fizeram ótimos casamentos.
Ela governou com sabedoria o Ducado de Alençon. Fundou vários conventos e instituições de caridade, em particular o mosteiro de Clarissas de Alençon, a partir do mosteiro da Ave Maria de Paris, depois o de Argentan.
Depois de 22 anos de viuvez, de escrupulosa abnegação à família e ao ducado, Margarida, livre do cuidado dos filhos, dividiu seus bens em três partes: uma destinada aos pobres, outra a Igreja e a terceira ao seu próprio sustento; depois se retirou no Castelo de Essai, que se transformou num verdadeiro mosteiro, e permaneceu em estreito contado com as Clarissas de Alençon.
O Bispo da Diocese precisou aconselhar a Duquesa Margarida a moderar seu próprio zelo ascético, que a levava a permanecer quase a noite toda em oração, a usar cilícios, a jejuar longamente, para provar, como ela mesma dizia, “algo da Paixão de Jesus”. Cedendo às exortações do prelado, Margarida aceitou mudar o método: passou a cuidar das chagas dos doentes, num ambulatório aberto por ela em Mortagne.
Antes de se tornar Clarissa em Argentan, Margarida enriqueceu igrejas e mosteiros com bordados de mérito incalculável feitos por ela com todo o carinho: o famoso “ponto de Alençon”, uma arte das mais sutis, e que lhe dão direito a ser considerada legítima ascendente das nossas modernas rendeiras.
O apadrinhamento histórico desta famosa renda cabe à Duquesa Margarida. Esta antepassada de Henrique IV, nora do “Gentil Duque”, que foi o companheiro de armas de Santa Joana d’Arc, não se limitou a administrar o ducado durante vinte anos, com tal sensatez e condescendência que lhe deram o nome de “mãe de toda a caridade”: ela praticou e incentivou esta arte que perdura até nossos dias.
Finalmente, a vocação religiosa de Margarida pode ser coroada de um modo completo e ainda mais austero, quando ela ingressou nas Clarissas pobres de Argentan, aceitando a duríssima vida das filhas de Santa Clara, que hoje a honram como uma de suas Beatas.
Ela professou do mosteiro de Argentan no dia 11 de outubro de 1520, nas mãos do Bispo de Séez, na presença do Irmão Gabriel Maria, comissário geral dos Menores da Observância, enquanto que sua cunhada, Felipa de Gueldre, entrava nas Clarissas de Pont-à-Mousson.
Ela deu exemplo da mais generosa observância da Regra; dotou o mosteiro de Estatutos particulares aprovados pelo Papa Leão X: ele autorizou Margarida a agregar ao mosteiro casas de religiosas da Ordem Terceira regular que ajudariam as religiosas reclusas.
Margarida faleceu como verdadeira Clarissa no dia 2 de novembro de 1521, com a reputação de santidade. Sobre seu peito foi encontrada uma cruz de ferro, com três pontas que penetravam na carne da Duquesa de Alençon, neta preferida do Rei Renato de Anjou. Muitos milagres foram atribuídos à sua intercessão. O Papa Bento XV a beatificou em 20 de março de 1921.
Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola.